CERÂMICAS CAMPO LARGO - PR
"Os traços da Memória sempre se escondem em lugares novos ou velhos
à espera apenas de um olhar que os liberte.
Assim eles podem cumprir o destino de ser compartilhados."
Eduardo Muylaert, mestre fotógrafo, escritor e advogado, em O Espírito dos Lugares (2003)
"Alegria não compartilhada é uma vela apagada."
Proverbio Espanhol
“O que não se compartilha, se perde…” - Rafael Greca de Macedo - Curitiba - Luz dos Pinhais 2016
Cerâmicas em Campo Largo
"Os traços da Memória sempre se escondem em lugares novos ou velhos
à espera apenas de um olhar que os liberte.
Assim eles podem cumprir o destino de ser compartilhados."
Eduardo Muylaert, mestre fotógrafo, escritor e advogado, em O Espírito dos Lugares (2003)
"Alegria não compartilhada é uma vela apagada."
Proverbio Espanhol
“O que não se compartilha, se perde…” - Rafael Greca de Macedo - Curitiba - Luz dos Pinhais 2016
Nos últimos anos tenho tido a genealogia como um hobby nas horas vagas e nos finais de semana. Surpreendo-me com cada descoberta. Como um grande quebra-cabeças, as peças vão se conectando, as surpresas aparecem pelo caminho e a história vai se revelando aos poucos.
Interessante como essa micro-história, normalmente esquecida ou guardada apenas na memória de poucos privilegiados, quando trazida à tona, acaba se conectando com a história oficial. Muitas vezes confirmando, transformando ou lançando um outro enfoque, diferenciado, por se tratar de um familiar.
Espero poder trazer aqui uma coletânea do material consultado e da colaboração de familiares, para meus filhos, sobrinhos e sobrinhas. Enfim, "facilitar" um pouco a vida das futuras gerações que se interessem sobre o tema.
Por meu frequente interesse por antiguidades, acabei recebendo dos familiares algumas cerâmicas e porcelanas antigas. Algumas delas, por coincidência do destino são de Campo Largo, conhecida como "Capital da Louça" no Paraná e no Brasil e onde moro atualmente. Creio que esse foi o pontapé inicial para meu interesse nas cerâmicas e porcelanas produzidas aqui.
Consegui identificar algumas peças com auxílio de grupos de fotos antigas no Facebook e de historiógrafos da cidade de Campo Largo como Edson dos Santos Silva, Renato Hundsdorfer, Pedro Soares Monticelli, Sr. Renato Fedalto, entre outros.
Muito importante também para o auxílio na identificação das peças foi a consulta aos sites/blogs dedicados às louças, cerâmicas e porcelanas como https://tempoguaranaderolha.blogspot.com/ de C. Deveikis e https://porcelanabrasil.blogspot.com/ de Fábio de Carvalho, referências na pesquisa do tema.
Ressalto o maravilhoso trabalho de Letícia de Sá Rocha em tese de doutoramento na FAU-USP com o título "A tradição na produção de louças de mesa na região de Campo Largo, a Capital da Louça, no Paraná: investigação história das décadas de 1920 a 1960". Excelente fonte de pesquisa com riqueza de detalhes e quadros históricos elaborados pela autora.A
Cerâmica Campo Largo
Prato de Bolo
Acervo pessoal
Prato de bolo - Cerâmica Campo Largo
Fazia parte do conjunto de cerâmica que foi presente de casamento dos meus avós Terezinha e Heraclides Lopes Araújo na década de 1940 em Guarapuava.
Cerâmica branca muito linda, fina, tipo faiança, com decalque de flores e dourado nas bordas.
Descobri que o Museu histórico de Campo Largo possui o conjunto completo deste jogo em seu acervo.
Com viagens, transportes e quase 80 anos de idade, muito craquelado, acabou quebrando. Restaurei com cola branca pela memória afetiva.
Travessas Ovais
Travessas Ovais - Cerâmica Campo Largo
Cerâmica branca fina, tipo faiança, com decoração de flores feito em estêncil e filetes em pincel. Essa decoração bem rudimentar de estêncil também era chamada de estanhola pelos técnicos.
Craqueladas, apresentam marcas de pouco uso um pouco de desgaste no esmalte.
Possivelmente da década de 1940 a 1960. Acervo pessoal
Saleiro
Saleiro Cerâmica Campo Largo - década de 1940 a 1960. Decoração em borda verde em aerógrafo, estêncil floral (estanhola) e letra em tipo gótico.
Havia entre as fábricas de cerâmica muito compartilhamento de modelos. É possível encontrar saleiro de modelo bem semelhante de outras marcas campolarguenses como Iguassu, por exemplo.
Acervo pessoal
Frascos pequenos (de rapé?)
Frasco pequeno em cerâmica muito fina, craquelada pelo tempo. Aparentemente sem uso. Cerâmica Campo Largo. Idade aproximada entre as década de 1920 a 1940.
Em pesquisa na internet sobre esse tipo de frasco de cerâmica fina de boca larga podendo ser com alça ou não encontrei frascos do final do século XIX e início do século XX que eram usados para rapé.
A logomarca da fábrica ao fundo do frasco também parece ser bem antiga, diferente da logo mais conhecida e moderna com as iniciais CCL em forma concêntrica. Assemelha-se mais à logo da antiga Companhia Manufactora de Louças Campo Largo, fundada na década de 1920.
Acervo pessoal.
Companhia Manufactora de Louças Campo Largo
Companhia Manufactora de Louças Campo Largo, fundada por Epaminondas Santos e João Batista Mendes (1920 ...)
Cerâmica Iracema
Cerâmica Iracema
Incêndio na Cerâmica Iracema
Cerâmica Campo Largo - CCL a partir de 1940
Facebook - Campo Largo Antiga
Fachada principal da Cerâmica Campo Largo.
Fonte : Jornal Folha de Campo Largo (2002)
Segundo relatado por alguns historiógrafos como Edson dos Santos e Renato Hundsdorfer em grupo no Facebook sobre Antiguidades de Campo Largo, a Cerâmica Campo Largo funcionou da década de 1940/1950 até a década de 1980 num quarteirão central em frente ao Museu Histórico. Ocupava um quadrilátero entre as ruas XV de Novembro com professor João Batista Valões com Mal.Deodoro com Domingos Cordeiro, de frente com o Museu.
Anteriormente conhecida como Cerâmica Iracema, como Cerâmica Parolin, sofreu incêndio em 23/12/1940.
Fábrica de Louças Iracema, pertencente à Darcy Portella & Cia. Incendiou em 23 de dezembro de 1940.
Antes foi a União Manufactora de Louças Campo Largo, e pertenceu a Rodolpho Castagnoli (Castagnoli & Cia) e antes disso pertenceu aos fundadores da Empresa, Ephaminondas Santos e João Batista Mendes (Santos, Mendes & Cia) fundadores da Fábrica.
Mais anteriormente pertenceu a Heráclito da Rocha Küster, que ali montou uma Usina geradora de energia (1911), com um gerador Siemens-Schuckert de 100KVA em um locomóvel à vapor R. Wolf. Antes disso a casa pertenceu a João Ribeiro de Macedo, que utilizava o locomóvel para a usina de beneficiamento de erva-mate.
Fonte: Facebook - Campo Largo Antigamente (Edson dos Santos e Renato Hundsdorfer)
S/A Cerâmica Iguassu
Prato raso
Acervo pessoal
Prato raso - Cerâmica Iguassu S. A.
Cerâmica branca fina, tipo faiança, com decoração de flores feito em estêncil e filete. Essa decoração bem rudimentar de estêncil também era chamada de estanhola pelos técnicos.
Craquelada, apresenta marcas de pouco uso um pouco de desgaste no esmalte.
Possivelmente da década de 1940.
Xícara
Acervo pessoal
Xícara - Cerâmica Iguassu S. A.
Cerâmica branca fina, tipo faiança, com decoração de flores feito em estêncil e filete. Essa decoração bem rudimentar de estêncil também era chamada de estanhola pelos técnicos.
Craquelada, apresenta marcas e manchas de uso e desgaste no esmalte.
Possivelmente da década de 1940.
S/A Cerâmica Iguassu começou em 1943 e funcionava onde hoje está o IFPR Campus Campo Largo. Antonio Munari era um dos proprietários entre outros.
Foi vendida para a INCEPA e passou a produzir pisos e revestimentos.
Cerâmica Aurora Ltda.
Conforme Letícia de Sá Rocha, com base em relatos de moradores de Campo Largo à época, localizava-se na Rua Benedito Soares Pinto.
Foi fundada em 16/11/1944 consistia na fabricação e comércio de louças em geral, de pó de pedra e de porcelana. Tinha como sócios: Vitório Cavalli (direção interna da fábrica), Tomaz João Bortolin (sócio gerente), Ernesto de Oliveira, Miguel Felipe Daher (libanês), Antenor José Cavalli, Ambrósio Gionedis e Terezinha Gaio Gionedis.
Fonte: Letícia de Sá Rocha (tese de doutorado)
Garrafa de Whisky e xícara Clube Concórdia
Garrafa pequena da Cerâmica Aurora Ltda estilo decanter de whisky escocês como o famoso Monk Whiskey.
Letícia Sá em sua tese de doutoramento menciona que um dos fatores de grande desenvolvimento da indústria campolarguense foi o desafio de reproduzir modelos já consagrados em outros locais. Cita que traziam modelos de fora, de São Paulo ou do exterior para tentar manufaturar aqui. Uma espécie de "engenharia reversa" que atualmente fez da China a grande indústria mundial.
Acervo pessoal
Xícara de cafezinho da Cerâmica Aurora Ltda.
Comemorativa da "Festa Junina" do extinto "Clube Concórdia" em 16/06/1955. Decoração manual aparentemente com uso de estêncil e pincel.
Acervo pessoal
Indústria de Louças Guarany Ltda.
Conforme Letícia de Sá Rocha, em 1950 foi fundada a Indústria de Louças Guarany Ltda. que localizava-se na Rua Benedito Soares Pinto, 2487 e tendo como sócios José Francisco Andreassa e Adolfo Vaz da Silva, conforme contrato social de 1969. Moradores antigos mencionam Domingos Vaz da Silva (Mingote) como outro sócio ou sucessor.
Havia uma fábrica de louças e outra de fundição de alumínio.
Teria funcionado até 1980.
Fonte: Letícia de Sá Rocha (tese de doutorado)
Fachada da Ind. Louças Guarany (Acervo particular)
Fonte: Letícia de Sá Rocha (tese de doutorado)
Propaganda da Ind. Louças Guarany.
Fonte: Letícia de Sá Rocha (tese de doutorado)
Ind. Louças Guarany em outro endereço.
Fonte: Letícia de Sá Rocha (tese de doutorado)
Tigelas grande e média Cerâmica Guarany
Tigelas Cerâmica Guarany, louça em pó de pedra possivelmente, muito pesada. Década de 1950 a 1970 possivelmente. Acervo particular
Xicrinhas de Meio Gole
Xícaras sem decoração estampada
Xicrinhas de meio gole (50ml), Cerâmica branca, tipo faiança. Sem indicação de marca, possivelmente Cerâmica Campo Largo. Década de 1950 a 1970 possivelmente. Acervo particular.
Xícaras com decoração estampada
Estilo art decò com figuras geométricas em stencil (estanhola) e filete em pincel.
Estilo art nouveau com padrão floral em stencil (estanhola) e filete em pincel.
Estilo art nouveau com padrão floral em stencil (estanhola) e filete em pincel.
Xicrinhas de meio gole (50ml), Cerâmica branca, tipo faiança. Sem indicação de marca, possivelmente Cerâmica Campo Largo. Padrão de decoração utilizado por esta marca. Década de 1950 a 1970 possivelmente. Acervo particular.
Estilo art decò com figuras geométricas em stencil (estanhola) e filete em pincel.
Estilo art nouveau com padrão floral em stencil (estanhola) e filete em pincel.
Padrão floral com decalque e filete em pincel.
Xicrinhas de meio gole (50ml), Cerâmica branca, tipo faiança. Sem indicação de marca, possivelmente Cerâmica Campo Largo. Padrão de decoração utilizado por esta marca. Década de 1950 a 1970 possivelmente. Acervo particular.
Faiança parlante
ou
Cerâmica falante
Fui apresentado ao termo "cerâmica falante" e "faiança parlante" por Ivete Ferreira em seu magnífico blog https://tempohistorias.blogspot.com/2015/09/amizade-faianca-falante.html
Fiquei impressionado com a sua elegante descrição acerca das cerâmicas falantes portuguesas, relatando que elas refletiam a alma simples e afável de seus apreciadores e usuários.
Pesquisando as louças cerâmicas de Campo Largo, percebi pela descrição de Ivete e de António Pacheco que algumas peças que tinha poderiam se classificar nesta linda categoria. Ivete cita António Pacheco no livro "Louça Tradicional de Coimbra 1869-1965", quando aborda o tema da cerâmica falante.
"Produzida nas olarias coimbrãs, era utilizada nas tabernas e casas pobres das aldeias das redondezas. Nela transparecia a alma simples das gentes que a usava e apreciava. Na sua génese poderão estar as faianças portuguesas seiscentistas, algumas com datas e dizeres característicos do período da Restauração da Independência, bem como o conhecimento das ceramiques parlantes, de origem francesa, executadas em larga escala entre 1789 e 1799, que tinham como principal função divulgar os ideais da Revolução Francesa. "
Faïence parlante ou "faiança falante" poderia ter uma origem muito antiga mas teria se tornado muito popular na França, no século XVIII, como a faïence patriotique, muito difundida nos anos da Revolução Francesa, digulgando os ideais da Revolução Francesa como Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Seguem alguns exemplares campolarguenses, possivelmente das década de 1950 a 1970. Acervo particular.
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