PEDRO SIQUEIRA CÔRTES

PEDRO SIQUEIRA CÔRTES (neto)

“O passado depende de algumas memórias privilegiadas, preso por um pequeno elo sempre a romper-se. Não é possível deixar-se rebentar a frágil ligação e perder-se o legado de nossos antepassados, aquilo que foi construído ao longo de muitas vidas, lutas e privações. ” Maria Francisca Silveira Caldas (35)   

Os traços da Memória sempre se escondem em lugares 
novos ou velhos
à espera apenas de um olhar que os liberte.
Assim eles podem cumprir o destino de ser compartilhados.
Eduardo Muylaert, mestre fotógrafo,
escritor e advogado, em O Espírito dos Lugares (2003)

“O que não se compartilha, se perde…” Rafael Greca de Macedo - Curitiba - Luz dos Pinhais 2016


"Vau do Iguaçu" - pintura de Carlos Alberto Kussik. Pedro Siqueira Cortes, em 12 de abril de 1842, descobriu o vau que permitia a passagem de tropas que igualmente, servia como ponto de embarque e desembarque aos que utilizavam-se do transito fluvial.



 

Pedro Siqueira Cortes, em 12 de abril de 1842, descobriu o vau que permitia a passagem de tropas que igualmente, servia como ponto de embarque e desembarque aos que utilizavam-se do transito fluvial.
           


INTRODUÇÃO

CRONOLOGIA


Pedro Siqueira Cortes - homenagem no Livro Guarapuava 1928


CRONOLOGIA

  • 1812 - nascimento em Curitiba. Batizado na Capela do Tamanduá em 08/12/1812;
  • 1827 - participa da segunda distribuição de terras por sesmarias em Guarapuava. Os descendentes de Bento Siqueira Cortes recebem terras em Guarapuava (atual Município de Pinhão - PR);
  • 1839 - Expedição aos Campos de Palmas
  • 1842 - 27/09/1842 - Casamento com Gertrudes Balbina da Glória possivelmente em Guarapuava; 
  • 1842 - descoberta do vau do Iguaçu
  • 1848 -  posse das terras em Guarapuava (???)
  • 1882 - morte



CURITIBA 

            Nasceu em Curitiba, localidade de Tamanduá. Certidão de batismo na Capela N. S. Conceição do Tamanduá. Seus avós moravam no Jaguacahen ou Javacahen "cabeça da onça" em língua indígena, , localidade correspondente hoje à região de Bateias, Município de Campo Largo - PR. Pais e avós moravam nessa localidade, em terras originárias de seu antepassado João Rodrigues França (último Guarda-Mor de Paranaguá) pelo menos até 1766. A partir de então a família teria se deslocado para a região do Tamanduá ou de Pugas em Palmeira onde seus parentes da família Araújo já moravam.

            O deslocamento da família se confunde com a própria história de ocupação, expansão e formação do Estado do Paraná: Vilinha dos Cortes no Atuba (séc. XVII), Curitiba (séc. XVII), Jaguacahen, atual Bateias em Campo Largo (séc. XVIII), Palmeira, Guarapuava (séc. XIX), Palmas (séc. XIX).

Certidão de batismo em Curitiba (Capela do Tamanduá) em 08/12/1812.



Capela do Tamanduá, atualmente faz parte do Município de Balsa Nova - PR

Bela tela de Artur Nísio sobre uma procissão no Tamanduá.



Pia batismal centenária na Capela do Tamanduá, esculpida em granito.


GUARAPUAVA 

            Casamento com Gertrudes Balbina da Glória em 1842 (27/09/1842) de acordo com Family Search.
            




A DESCOBERTA DOS CAMPOS DE PALMAS

                No início do século XIX havia uma preocupação muito grande do governo imperial do Brasil em ocupar e definir as fronteiras no Sul. Os conflitos com indígenas e possíveis disputas territoriais com Argentina e Paraguai motivaram a expansão territorial com ocupação efetiva, principalmente no oeste da região sul.




Campos de Palmas - PR atualmente
            
             No século XIX as fronteiras ocidentais do Brasil ainda não encontravam-se todas definidas. Especificamente sobre a região dos atuais "Campos de Palmas já começavam a surgir mapas como sendo território argentino. Havia grande preocupação do governo brasileiro em incentivar a ocupação da região.

Mapa argentino do séc. XIX da província de Missiones

           Em maio de 1836 o sargento-mor José de Andrade Pereira entrou no sertão e avistou mais dois campos de Palmas. Começava a brotar o interesse pela sua ocupação, naquela região de fronteira. Era considerada uma área "desocupada", embora houvesse ocupação indígena, com as tribos de Viri e Condá. O governo imperial estimulava sua ocupação. A criação e invernagem de gado era a atividade econômica vislumbrada para abastecer de carne não só o grande mercado do Rio de Janeiro e São Paulo, mas também o crescente mercado local. (25)

              Segundo Bandeira in Mendes, no ano de 1836, parte de Palmeira a primeira expedição chefiada pelo Padre Ponciano José de Araújo e por José Joaquim de Almeida, distinguido, mais tarde, com o posto de Coronel da Guarda Nacional. Dela recusou fazer parte Pedro de Siqueira Côrtes, por julgar impraticável a entrada 'por cima'. 'Vocês não atravessarão essas Serras' - dizia o experimentado bandeirante. E com essa opinião concordava outro não menos ponderado e destemido, amigo que era de Pedro de Siqueira Côrtes - Domingo Inácio de Araújo. E assim aconteceu A bandeira de padre Ponciano e José de Almeida não conseguiu atingir os afamados campos. (20).

            Fracassada a primeira tentativa de conquista e ocupação em 1836 pelo padre Ponciano José de Araújo e José de Almeida, só  três anos mais tarde, em 1839, é que  se teve a organização e marcha das expedições de Pedro de Siqueira Côrtes e de Padre Ponciano que triunfaram nos propósitos de conquista dos campos de Palmas. (20)

Mapa dos Campos de Palmas (1843).

      José Ferreira dos Santos juntamente com Padre Ponciano e outros organizaram uma sociedade para explorar os Campos de Palmas. 
            Ponciano tinha vocação de explorador reconhecida, tanto que recebeu do bispo de São Paulo, D. Manuel de Almeida, em 26 de fevereiro de 1832, o privilégio do Altar Portátil dado aos padres Bandeirantes (LAGO,L.S.Consciência, Palmas: v.1, n.4, jan-jun. 1999, p. 64). (1)

            
           

           Primeiramente, temos a sociedade capitaneada por José Ferreira dos Santos e pelo padre José Ponciano de Araújo, que permitia o ingresso e a conquista de Palmas somente por cidadãos com condições de arcar com as cláusulas dispostas na ata. (25)

            Definir como necessário ser cidadão num documento do século XIX já era por si só uma característica que excluía ou limitava a participação de escravos, índios, libertos e mulheres. Mas nesse caso ser cidadão significava mais: ter posses suficientes para arcar com as obrigações dispostas no acordo. Obrigações essas que eram muitas. A ambição central desse grupo era: a aquisição e o cultivo das novas terras por todos os participantes da expedição. (25)     

Sociedade particular de José Ferreira e Pe Ponciano

            Pedro de Siqueira Cortes (nasceu na região de Palmeira em 8 de fevereiro de 1811, filho de Bento de Siqueira Cortes e de Ana Maria de Jesus) solicitou admissão para sociedade que estava sendo formada por José Ferreira dos Santos para exploração dos campos de Palmas e foi repelido, então organizou outra sociedade em Guarapuava no dia 28 de abril de 1839 e também chegou aos campos de Palmas. 

            O segundo grupo, comandado por Pedro Siqueira Cortes, era mais heterogêneo do ponto de vista social e, possivelmente, do ponto de vista econômico do que o anterior. Isto em virtude da existência de diversas assinaturas a rogo, ou seja, havia integrantes desse grupo que não sabiam escrever, ao contrário do compromisso anterior. No século XIX, havia uma diferença econômica significativa entre quem era educado formalmente e aprendeu as primeiras letras e aqueles que não tiveram acesso à alfabetização.

Acta do grupo de Pedro Siqueira Cortes

            Assim, provavelmente na companhia de Cortes nem todos vinham do mesmo grupo social. Além disso, diferentemente da primeira sociedade, esta não possuía sócios e sim comandados, pois eles eram chefiados por Cortes e pretendentes ao povoamento dos campos de Palmas, como aparece no título da ata. Os membros do segundo grupo declaravam se submeter às ordens e às direções de Cortes. Esta autoridade que Cortes impunha aos participantes da sua expedição evidencia que estes não tinham tanto poder para questioná-lo e nem condições econômicas para serem vistos por este como iguais, como sócios. Estes indivíduos deveriam ser menos favorecidos que Cortes para aceitar seus mandos e desmandos e, talvez, devido a essa situação economicamente desfavorável não tenham participado da outra expedição, a princípio um pouco mais “democrática”, porém mais dispendiosa. Assim, talvez a lógica fosse: mais vale alguma terra usufruída, do que terra alguma.

            A intenção de Cortes era que seus comandados realmente se estabelecessem nas terras e as tornassem produtivas. Mas, em caso de necessidade de venda, esses povoadores não tinham a possibilidade de vender a mais ninguém que não fosse Cortes. Ele dava as terras a serem povoadas aos seus “comandados”, mas não como um bem inalienável, de propriedade irrestrita visto que eles não poderiam realizar operações de compra e venda ou doação e o não cumprimento de uma das cláusulas levaria à perda das mesmas.(25)

             O encontro das duas Bandeiras de descobridores ocorreu no lugar denominado Abarracamento, quando uma das Bandeiras descia o Rio Chopim. O encontro foi inesperado e os chefes, inconformados, cada um pretendia para si, a região desbravada.

            Os dois grupos levaram gado, cerca de 30 cabeças cada participante, segundo as normas das sociedades criadas, e a chegada ao mesmo lugar exaltou os ânimos, parecendo iminente uma decisão pela força, nos meses seguintes. 

            Depois de muita discussão entre as duas partes não se chegando a um acordo, e já tomando caráter de um confronto armado, nesse momento o padre Ponciano José de Araújo, que fazia parte de uma das expedições, interveio na discussão dos contendores, acalmando os ânimos já bem exaltados, apresentando uma solução pacífica para o caso, e que não traria prejuízo a nenhuma das partes.

            A situação acabou resolvida pacificamente quando os litigantes aceitaram a ideia do Padre Ponciano, de resolve a pendência pela arbitragem. (13)          

            A proposta do padre Ponciano foi de que uma das expedições ficasse com o domínio do Rio Caldeiras para o Nascente (leste), e a outra com o domínio partindo do mesmo rio para o lado do Poente (oeste),  localização dos campos de Palmas de Baixo, atual Clevelândia

             E foi assim que os Campos de Palmas se dividiram em duas partes distintas, mas no conjunto geral são considerados um só Campo.

            Os campos de Palmas de baixo foram ocupados por fazendas constuídas pelos pioneiros descobridores: a Fazenda São Pedro, do Capitão Manoel Paulo de Siqueira, a Fazenda da Ronda Grande, de Manoel Felix de Siqueira, a Fazenda da Lagoa, de Pedro de Siqueira Cortes, onde as casas eram feitas de pedras com argamassa, e estão situadas no hoje município de Mangueirinha; ainda a Fazenda Trindade, hoje pertencendo ao município de Clevelândia, construída por Pedro Ribeiro de Souza, mais a Fazenda São José, de propriedade de Anibal Wirmond, Fazenda Pitanga, de Francisco Antonio de Araújo, e Fazenda do Cruzeiro, de Brasileiro de Araújo Pimpão.

            A sabedoria, a ponderância e o espírito pacificador de Padre Ponciano fizeram com que deixasse a disputa pela primazia da descoberta dos Campos de Palmas, ficando esta com o bandeirante curitibano Pedro de Siqueira Cortes.

ARBITRAMENTO DA QUESTÃO DE PALMAS 

https://www.portalmeigaterra.com/nossa-historia-parte1

A DESCOBERTA DO VAU DO IGUAÇU

            De acordo com Mendes (20), após ser desviado o trajeto da estrada das Missões da Vila de Palmas, na segunda metade do século XIX, a questão que se coloca é saber como se dá a abertura dos caminhos para os Campos de Palmas e como se comportou o governo da Província do Paraná em relação à destinação de recursos para a abertura dos mesmos.

            Depois de efetivada a ocupação dos campos, com a instalação das fazendas e da povoação em 1840 e, tendo sido solucionado o problema da posse das terras entre as bandeiras de José Ferreira dos Santos e Pedro de Siqueira Cortes, outros problemas entram em cena exigindo rápida solução: o do abastecimento de sal dos animais ali introduzidos, assim como o fornecimento de instrumentos de metal e outros gêneros de primeira
necessidade.

            Como a única via de comunicação com Guarapuava não era favorável, pois,

 o transporte por Guarapuava era muito dispendioso em virtude da extensão e do acidentado caminho, em face destas circunstâncias, deliberaram os fazendeiros de Palmas abrir uma estrada que os pusesse em comunicação direta com os mercados de sal. (REISEMBERG; 1980:40)


            Assim, em 1842, o capitão Pedro de Siqueira Cortes, novo comandante da Companhia dos Municipais Permanentes e sucessor de Hermógenes Carneiro Lobo, tomou a iniciativa de buscar um novo caminho que, passando 

... o Iguaçu em vau, oito léguas acima do porto de embarque, partiu a 12 de abril.de 1842 com sete pessoas, e seguindo rumo nordeste chegou â freguesia da Palmeira, nos referidos Campos Gerais, no dia 07 de maio de 1842, varando, vinte léguas de sertão desde o referido rio, em cujas diligencias encontrou diferentes vestígios de selvagens (MARTINE, 1902:139)


            Todavia, as dificuldades relativas ã distância do caminho aberto pelo capitão Pedro de Siqueira Cortes, mobilizou os fazendeiros no sentido de, em

... março de 1846, fazer outra exploração as expensas suas., que partindo de
Palmas mais ao sul, fosse encontrar o Iguaçu naquele passo de vau, no que foram igualmente felizes, achando melhor e mais curta vereda, com a distância so mente de perto de onze léguas, de sorte que aquele vau no Iguaçu, ao passo que serve para animais de carga ou sem ela, serve igualmente de porto de embarque e desembarque aos que preferem o trãnsito fluvial• para a condução de suas cargas, e por isso o denominam ' de Porto
União. (Id.Ibid. : 180).



            Assim, este caminho assume relevo histórico, porque representou
o primeiro eixo de povoamento do vale(REISEMBER, 1980 : 41) do rio Iguaçu. Nas proximidades desse caminho serão estabelecidas as primeiras posses de terra.

            Estava, assim, aberto um caminho, mesmo ainda que de forma precária, mais curto entre o Campo dos Biturunas e os Campos Gerais de Curitiba, mas, também o maior eixo de povoamento no vale do Iguaçu, pois, acabara de abrir ao trabalho dos homens uma nova área, com mais de 200 léguas quadradas, que pouco a pouco, famílias de Curitiba, São José dos Pinhais, de Palmeira e de Palmas vão se estabelecendo em suas margens"T(Id. Ibid.:48), iniciando o povoamento da região.

            Dessa maneira, após descoberto o caminho e aberta a picada, estava conseguida,

a melhor maneira para os fazendeiros de Palmas receberem o sal para o gado, do Porto de Paranaguá... A grande vantagem era que de Palmeira até União com freqüência esse sal e as mercadorias de menor vulto, desciam de canoas pelo rio Iguaçu. 0 gado vindo de Palmas, por sua vez, atravessava o rio Iguaçu no vau da União. A distância entre Palmas e Palmeira por este  caminho era 32 léguas e via Guarapuava chegava a 60. (WACHOWICZ, 1985: 59) .

            Mesmo, apesar das evidentes vantagens que esse caminho trazia para o desenvolvimento do comércio e do povoamento no va le do rio Iguaçu e dos Campos de Palmas, a Província praticamente nada fazia para conservar essa tão importante via de comunicação para Palmas.(REISEMBERa 1980:60).

            Os fazendeiros conservavam o percurso de Palmas a Porto União, sendo o trecho de Palmeira a Triunfo conservado pelos moradores dessas comunidades, restando para a Província a conservação do percurso de Triunfo â União. "Acontece que os maiores benificiados por este estado de coisas eram os comerciantes de Guarapuava. Todo esse movimento era desviado para a estrada das Missões, trecho Palmas-Guarapuava. (Id.Ibid. : 60).

            Observa-se, então, que as articulações políticas dos guarapuavanos eram no sentido de fazer o governo provincial destinar mais recursos para a conservação e melhoria do caminho das Missões, por ser mais favorável para o comércio de Guarapuava, em detrimento da estrada Palmas-Palmeira.         Enquanto isso,

os palmenses eram obrigados a fazer cerca de 28 léguas a mais, em detrimento de sua própria economia. As mercadorias via Guarapuava chegavam a preços excessivamente altos. Por sua vez, o gado exportado por
Palmas não chegava gordo aos mercados da capital e litoral. A maioria vendiaas rezes em Guarapuava ou nos Campos Gerais, para invernagem que as engordava para revenda. (REISEMBERG, 1980:60).


            Sendo assim., os preços dos animais vendidos pelos fazendeiros
de Palmas não remuneravam as despesjxs de produção. Contra esse mal tem aquela população clamado quase em vão. (D'OLIVEIRA;1985:60)

            Na realidade, houve maior destinação de recursos para certas estradas e, menor para outras, como se observa no relatório do Presidente da Província do Paraná, no quadro demonstrativo da despesa com vias de comunicação desde a instalação da província até o fim do exercício 1864-65. Para o período de 1853 a 65, a estrada de Palmas a Palmeira foi contemplada com 33:566$97 6, enquanto que para o mesmo periodo a estrada da Mata recebeu a soma de 105:855$564 e a estrada . da Graciosa 295: 026$195. (RELATÓRIO; 1866).

            A estrada da Mata era um caminho que comunicava os campos do Rio Grande do Sul, desde Viamão, até a feira paulista de Sorocaba. O gado transportado do Rio Grande do Sul era revendido em Sorocaba e conduzido para as Minas Gerais e outras regiões. Não foi sõ o transporte de gado muar que caracterizou essa estrada; também transitavam tropas de bovinos. Esse caminho tinha vital importância, pois era o único que ligava São Paulo com o Rio Grande do Sul, pelo interior. De sorte que, Curitiba por estar situada próxima a essa rota muito se beneficiava com âs constantes visitas dos tropeiros, incrementando o desenvolvimento do seu comércio.

            A estrada da Graciosa ligava o planalto com a região litorânea. Sua construção sõ foi concluída em 1872, e foi considerada a estrada mais importante da Província, pois, desafogou a economia paranaense ampliando as relações comerciais do planalto com o litoral, permitindo o transporte de mercadorias para exportação, como também a importação de mercadorias para o planalto.

            A estrada de Palmas a Palmeira ligava a região produtora de animais destinados ao consumo da capital e do litoral paranaense. Na conjuntura da"segunda metade do século XIX, os campos de Palmas e de Guarapuava possuiam o maior rebanho de gado bovino e cavalar existente no Paraná.

            Entretanto, constatou-se que, após a instalação da Câmara Municipal de Palmas, em 11 de novembro de 1879, em sessão ordinária, foi lido ofício do Presidente da Província, Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá (ARQUIVO, 1879-85:14) autorizando a despesa de 4:000$000 para melhoramentos na estrada de Palmas ã Porto União e dali até Palmeira. Em 02 de agosto de
1882, em ofício da Câmara Municipal de Palmas ao Presidente da Província do Paraná, Carlos de Carvalho, é mencionada a autorização de despesa de 500$000 ao cidadão Tobias Bueno de Andrade para o benefício de meia légua de caminho da estrada da freguesia de Vitória e 30$000 para reconstrução da mangueira no porto Iguaçu. (ARQUIVO, 1882-94:23)

            Portanto, para a conjuntura de 1879 a 1895, de 16 anos, apenas em dois ofícios são mencionados recursos destinados à estrada de Palmas a Porto União-Palmeira. 

            Posteriormente, vários relatórios acerca das necessidades do município de Palmas, enviados pela Câmara a presidência da Província, permitem conhecer a condição de abandono das estradas no município.

            O relatório apresentado pela Câmara Municipal de Palmas em resposta â circulât do Presidente da Província, Jesuíno Marcondes de Oliveira Sã, datado de 01 de julho de 1882 e apresentado em 0 9 de agosto de 1882, comunica que, 

as vias de comunicação deste municipio são péssimas. Não hã uma via de comunicação que possa ser denominada estrada. Os caminhos que existem... influem para a marcha lenta das transações do comércio
Abrir uma estrada de rodagem do Porto da União à Palmas é uma das mais imperiosas necessidades ... de Porto da União diretamente com Guarapuava rasgando ou abrin_
do da margem direita do Iguaçu o que sera fácil sob o ponto de vista econômico pela sua pouca extensão, já que pelas condições e natureza de solo ... Desenvolver-se o comércio nessa zona bem importante do município, e conquanto essa comercialização tenha ãe ser aberta no
municipio de Palmeira... aberta a estrada da vila de Palmas a Guarapuava em condições de rodagem evitando-se penoso trajeto que se faz atualmente, que tanto concorre para as poucas transações entre os dois municípios. Outra necessidade que tem essa Câmara a distinta honra de chamar a atenção de V.Excia. é para a abertura de uma estrada que ponha com rapidez em comunicação este município com a província do Rio Grande do Sul, visto as dificuldades que apresentam o caminho aberto em sertão em que as serras cobertas de pedras e outros obstáculos terríveis ao comércio, que nas
estações chuvosas ficam completamente paralizadas.
(ARQUIVO, 1882-94:24)

            Em outro relatório da Câmara Municipal de Palmas, de 25 de agosto de 1884, em cumprimento â circular de 26 de fevereiro de 1883, remetido ao Presidente da Província, Luiz Alves Leite, constata-se que a situação das estradas no município continuam péssimas e esquecidas pelas autoridades provincia, haja vista o fato de que 

as estradas que cortam o município carecem de maiores recursos. SÓ tem se podido melhorar alguns trechos pela verba especial dos direitos sobre a exportação de animais do município, como seja, o concerto sobre a serra do rio Jangada na estrada de União da Vitória a esta vila e pontilhões em diferentes arroios da estrada Geral para o Rio Grande do Sul. Essa via uma das mais importantes que passam por este município acha-se no presente em péssimo estado, sendo de notar que a mais de 2 anos não tem recebido nenhum benefício dos cofres da Província, essa estrada que aflue maior parte do comércio para a feira de Sorocaba, e por isso de grande rendimento ao tesouro... com o auxílio de 4 :000$000.ela ficará em estado regular para o trânsito de animais soltos e carregados desde o rio Iguaçu até o Goio-en. . . .(ARQUIVO, 1882-94:34-5)

                No relatório de 31 de dezembro de 1886, enviado ao Presidente da Província, Joaquim A. Faria Sobrinho e â Assembleda Provincial do Paraná, relata-se o seguinte sobre as estradas do município:

As estradas comerciais que cortam este município, e mais benefício precisão sãoas seguinte: A que liga esta província com a do Rio Grande do Sul, passando pelo sertão do Goio-ên, e por onde aflue o comércio de bestas para a feira de Sorocaba. ...a muitos anos que não recebe benefício algum, e porque os comerciantes que são onerados de direitos clamam, e parece que com razão, sobre o péssimo estado em que ela se acha, e ainda pior fica no inverno. A que comunica esta província com a de Santa Catarina pelo rio do Peixe e São João, nunca receberam favor algum dos cofres públicos, no entanto que são elas que de importância comercial tal, que não se pode prescindir' de melhorâ-la. . . .A que liga este municí_ pio com o territoio da nova Província de Missões do estado Argentino e passa pelo Campo -êre. ...se acha quase fechada, além de conter nela não poucos estancieiros que jã^exportam crescido número de diferentes animais ... (Id.Ibid. :44-5).


            Em outro relatório da Câmara Municipal de Palmas, de 07 de janeiro de 1888, ao Presidente da Província, José de Cezario Miranda Ribeiro, também é feito relato sobre a situação das estradas no município de Palmas.

As que cortam o território deste município, estão a muito sem receber algum benefício, a estrada Geral que corta o município indo para o Rio Grande do Sul onde o comércio aflui com interrupção achasse necessitada de benefícios, tanto que com gusta razão clamam os tropeiros que ali passam constantemente, e que concorrem com o tributo que lhes é imposto e sentem falta de melhoramentos na  dita estrada, no sertão do Goio-en e na restinga do Iguaçu. ... a atual estrada que vai desta, a Campos Novos em Santa Cutarina, que dista apenas 24 léguas, porém encontra-se aquém do rio do Peixe uma zona de 6 a 8 léguas que é tao mau caminho que o viajeiro bem prevenido levará pelo menos 2 dias para com dificuldades transpo-los, ... que desde aberto o pique, para nele se estabelecer a estrada, foi completamente abandonada, não tendo até hoje recebido dos poderes públicos algum benefício. A estrada geral que vai desta Vila a União da Vitoria, conquanto que ali exista uma comissão pa ra reconstruir a dita estrada, todavia, não deixa de haver constantes necessidades de reparos. ... a que liga esta vila com o povoado do Campo-ere na fronteira Ar g entina conserva-se continuamente em péssimo estado, sendo que nenhum benefício, tem sido ministrado pelos poderes públicos. (ARQUIVO, 1882-94:49-50)

            Em 1889, com o fim do Império e nascimento da República, nada mudou em relação às condições das estradas que se dirigia a Palmas. Continuaram calamitosas, tal como se pôde constatar no ofício da Intendencia Municipal de Palmas, de 30 de maio de 1890, enviado ao governador Américo Lobo Leite Pereira, pelo presidente da intendencia, José Joaquim Balhs.

A indústria pastoril. principal- fonte de riqueza deste município, se não tem chegado a um desenvolvimento completo é devido a falta de bons reprodutores, boas estradas faltam. A falta de boas estradas tem trazido desânimo aos criadores que além das grandes dificuldades com que lutam para transportar o gado, este chega ao mercado em mau' estado de sorte que não pode alcançar preço que remunere o trabalho. 0 número de criadores é de 72, e o número de cabeças de gado atinge 70.000 mais ou menos. 0 gado para exportação custa de 18$000 â 22. $000 e o de criar 10$000 a 12$000,não posso precisar a raça do gado porque a existente é a mesma que foi introduzida pelos primitivos povoadores deste município. (ARQUIVO, 1882-94: 58).'

            Assim sendo, as duas questões territoriais que envolveram a região dos Campos de Palmas: a "Questão de Palmas", entre o Brasil e a Argentina e a "Questão de limites entre o Paraná e Santa Catarina" refletiram negativamente desmotivando as autoridades provinciais paranaenses a investirem mais recursos dos cofres públicos da Província do Paraná, e mais tarde do Estado, no desenvolvimento da infraestrutura de comunicação no município de Palmas. Diante do risco de perder o território para a Argentina e depois -para Santa Catarina, inibiu as autoridades provinciais a aplicarem mais recursos na região em litígio

            Ao ganhar o litígio com a república Argentina, o município de Palmas e o Paraná garantiram a integridade de seus territórios, porém com o acordo feito com Santa Catarina o Estado do Paraná perdia aproximadamente 28.000 km2. Se os governos Provincial e Estadual tivessem investido recursos para o desenvolvimento das vias de comunicação nessa região, após 1916, eles seriam incorporados pelo Estado de Santa Catarina, ou talvez, o Paraná, com isso, não houvesse perdido a questão. 

            Diante do quadro geral apresentado anteriormente sobre o comércio na região dos Campos de Palmas acrescenta-se o seguinte. Na segunda metade do século XIX, as atividades econômicas geradoras de riqueza no Paraná e na região dos Campos de Palmas, eram o criatõrio, o comércio e invernagem de gado, incluindo também a extração e comércio de'erva mate.

            O gado criado na região dos Campos de Palmas era comercializado, principalmente, em Palmeira, Guarapuava, Ponta Grossa e Curitiba. Assim, os animais dos Campos de Palmas iam aumentar os rebanhos nessas regiões, que, após engorde eram revendidos no litoral e na feira de Sorocaba. São essas as notícias sobre o. comércio do gado encontradas na literatura que aborda o comércio de gado de Palmas. Observa-se que falam da exportação de animais e erva mate para fora do município, mais nada trazem sobre as quantidades exportadas, e nem estudam a importância relativa desses produtos regionais na receita do município de Palmas.

               Portanto, procurou-se preencher essa lacuna, buscando novos informes sobre o comércio do gado e da erva mate, do município de Palmas através de pesquisa complementar em fonte primária.

            Optou-se pela análise do Balanço de receitas e despesas do município, no período 1879-85, o único dessa natureza localizado no arquivo da prefeitura municipal de Palmas.

            Nesse livro registraram-se todas as receitas e despesas do município, incluindo as receitas sobre exportação de gado e erva mate para fora do município, no entanto, esses registros não traziam o nome dos exportadores, as quantias declaradas e nem o destino das mercadorias.

            Diante desse quadro, para se obter o número de animais e das arrobas de erva mate exportadas, foi necessário consultar outra fonte convergente, sobre o valor do imposto cobrado por animal e arroba exportados.

            Acerca dessa questão, o código de postura municipal da vila de Palmas, em 1879 determinava 

em seu capítulo 1º - da venda, § 11, que sevá cobrado o imposto de $050 sobve cada cabeça de animal vacum, muar e cavalar que for exportado para fora do municipio. E, no 12, o imposto de $040 por cada 15 kg de erva mate exportada para fora do município. (ARQUIVO-, 1879-85: 4)

            Assim, para os anos de 1879 a 1882, dividindo o valor das receitas sobre animais e erva mate, pelas taxas cobradas de imposto, obteve-se as quantidades exportadas de cada produto.

            De 1883 a 1885, o código de postura sofreu alterações quanto ao valor desses impostos, passando determinar 

em seu artigo 1º - impostos municipais, no §21 - imposto sobre cabeça de animal exportado a importância de $100, e no §22 - imposto sobre cada 15 kg de erva mate exportada para fora do município $080. (ARQUIVO , 1879-8 5:91)

            Adotado o mesmo procedimento anterior, obteve-se as quantidades exportadas, tornando possível a construção do quadro n9 18, onde é possível verificar o número de animais e arrobas de erva mate exportadas, como também, a participação relativade cada uma dessas atividades econômicas, na receita total do município, ano a ano, e para todo o período de 1879 a 1885. 

            Analisando constata-se no quadro nÇ 18 , que de 1879 a 1885, foram exportados 2.091 animais, que geraram uma receita de 1:545$600, ou 11,84% da receita total do município. Foram exportadas 1.277 arrobas de erva mate, que geraram 652$140, ou 5,00% da receita total do município.


            Mendes (20) conclui que No ativo semoventes animais, encontra-se a forma específica de bem, mais freqüente no conjunto das fortunas, isto é, o tipo de riqueza mais comum era a propriedade de animais bovinos , equinos, muarés, ovinos e suínos. Observa-se no conjunto do ativo semoventes animais, que os da especie equina são os que aparecem com mais freqüência, seguidos pelos bovinos, muarés, ovinos e suínos, portanto, a criação de animais cavalares era mais importante na economia dos Campos de Palmas, do que a de bovinos e muarés.






CANDOY / PINHÃO

FALECIMENTO

ANTEPASSADOS






DESCENDENTES


 A narrativa dos historiadores sobre a Vovó Anina e seus antepassados Siqueira Côrtes.
           

                             Foto: parte da capa do livro Pioneiros do Vale do Entre Rios 1818-1951

            Um dos maiores estudiosos da genealogia dos Siqueira Côrtes na região de Guarapuava (PR) era o Sr. Sebastião Meira Martins, não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, faleceu recentemente com a avançada idade de 88 anos. Era fazendeiro da região de Guarapuava, dono de uma das propriedades mais antigas da região. Por conhecer muitos dos moradores ditos "antigos" de Guarapuava passou a colocar no papel os seus conhecimentos históricos e genealógicos o que resultou em cerca de 17 obras sobre a região e seus primeiros povoadores. Conheci cerca de 4 delas em minhas pesquisas genealógicas, as quais me surpreenderam muito com a riqueza de detalhes sobre meus familiares, especialmente os Siqueira Côrtes, os Araújo e Agner. Algumas de suas obras são inéditas e estão sob guarda da Casa da Cultura de Guarapuava.


Sr Sebastião em publicação da Revista do Produtos do Paraná - Ano VIII - Nº 43 - Junho /Julho - 2014. Disponível em: https://issuu.com/seletivainternet/docs/srg_rev_prod_rural_43_web

            Entre os livros que mais me impressionaram pelo registro genealógico de histórias familiares minhas foram: Desbravador e Bandeirante - Padre Ponciano José de Araújo e Seus Descendentes; Guarapuava, nossa gente e suas origens; Pioneiros do Vale do Entre Rios - 1818 - 1951. Com esses livros encontrei praticamente a árvore genealógica inteira da minha avó materna e seus pais Anina Siqueira Araújo e Ozório Saul de Araújo. Sabe-se que as famílias Siqueira Côrtes e Aráujo desde longa data tem muita proximidade entre si com diversos casamentos nos registros genealógicos.             


Livros do Sr. Sebastião que mais contribuíram para a minha pesquisa genealógica.

            Minha querida bisavó Anina Siqueira Araújo, chamada carinhosamente por todos "Vovó Anina" tenha se esmerado em registrar cuidadosamente seus descendentes com data precisa de nascimento, casamento e "morrimento" - um verdadeiro cartório familiar, dizia-se:  " Ninguém podia nascer, casar ou morrer sem passar pelo velho e surrado caderninho de notas da vendinha de secos e molhados do Vô Ozório..."



Livo caixa da década de 1930 do Armazém de secos de Molhados do Vô Ozório

            Se por um lado deixou registros precisos e preciosos de seus descendentes, por outro não deixou muitos registros escritos dos antepassados.  Legou a filhos, netos e bisnetos o gosto pela tradição oral em suas belas histórias dos tempos de antigamente. Estas foram inculcadas em todos e com o mesmo carinho que contava, hoje as lembramos... 

            Muito da tradição oral, lembramos nos raros encontros da família. Com certeza a maior depositária desse grande legado é a prima Marli Lopes de Araújo que sempre puxa uma história inédita da memória e alegra a todos reavivando os dizeres e palavrórios de um tempo que a conversa era menos fria, mecânica e jornalística e mais carregada de sentimentos, presença, calor humano e humanidade. Um tempo não muito longe cronologicamente mas cheio de emoções em todos os seus matizes, festas religiosas comemoradas muita devoção e alegria, os rompantes corajosos, os momentos de temor, as alegrias dos encontros, as tristezas e até tempos de dificuldade superados cuja lembrança nos fortalece a fé.

            Os primos Carlos Armando Lacerda, João Carlos Lacerda, Tia Ivete, Tia Aidam e Eliane Maria Araújo Weiss Murbach somam-se à prima Marli na preservação dessas lembranças na família e contribuíram em muito para essas pesquisas. Um pouco antes da Vó Anina falecer, Eliane transcreveu boa parte da árvore genealógica dos antepassados dela e do Vô Ozório. Não se sabe porque, mas as narrativas eram sempre mais focadas na família Araújo, que era a de seu esposo Ozório, sua mãe Maria Ubaldina, sua avó Francisca. Pouco ou nenhum relato sobre a família de seu pai Miceno e sobre os Siqueira Côrtes. Vagamente tinha conhecimento que ela tinha o sobrenome Siqueira antes do Araújo, mas, neste ano fui pesquisar um pouco sobre o assunto e acabei descobrindo que fazia parte de um contexto bem maior, da família Siqueira Côrtes, mais antiga que o Estado do Paraná e cuja história é cheia de epopeias idas e vindas que veremos a seguir.
            
           Curioso que esta simpática senhora pouco falou sobre seus familiares da família Siqueira, mas foi, sem querer, uma janela ou um portal de ligação com essa empolgante história que se funde com a própria história de ocupação do atual Estado do Paraná, que outrora era São Paulo, território espanhol do Guayrá... chegando aos tempos dantanhos!

             Por essa razão digo que a pesquisa genealógica dos Siqueira Côrtes foi quase integralmente bibliográfica. Partindo dos livros do Sr. Sebastião Meira Martins, que cita a Vovó Anina, suas filhas, irmãs, seu pai Miceno, seu avô Jesuíno, etc...

            Iniciando a pesquisa com a Vovó Anina!

Vovó Anina Siqueira Araújo 
                            
           Na certidão de casamento da Vovó Anina com Vô Ozório, um dos poucos documentos oficiais dela consta seu nome com dois "N" , ou seja, Annina Siqueira de Araújo, filha de Niceno Ferreira de Siqueira e de Maria Ubaldina de Araújo. A certidão em meio digital foi gentilmente cedida pela prima Eliane Maria Araújo Weiss Murbach, filha da tia Ivete, com quem morava a vovó à época de seu falecimento. Em comentários recentes foi esclarecido que o nome correto era Anina Siqueira de Araujo, com um "N" mesmo, conforme ela assianava. Da mesma forma, o nome de seu pai Miceno, também aparenta estar com grafia duvidosa (Niceno) na mencionada certidão, em outros registros ocorre Myceno. Equívocos nos cartórios sempre foram muito comuns, ainda mais com nomes incomuns.
Certidão de casamento de Anina e Ozório em 5 de fevereiro de 1921.

           Avançando um pouco na genealogia dos Siqueira, seu pai Miceno Ferreira de Siqueira foi casado com Maria Ubaldina de Araújo. Aqui já se percebe como é comum o casamento entre as duas famílias. Infelizmente não encontrei fotos do Miceno e tampouco da Maria Ubaldina, também conhecida como Vó Sinhazinha.            
Jesuíno de Siqueira Côrtes (grafado como Josino) e seus descendentes -
 Livro Guarapuava, nossa gente e suas origens, de Sebastião Meira Martins.

            Mas vamos nos deter na genealogia dos Siqueira Côrtes, pois a dos Araújos é tão extensa quanto e que merece espaço em tópico próprio.

Gráfico MyHeritage de ascendência paterna da Vovó Anina.

            Em excelente trabalho de Jhonathan Boldori Leonardi de 2018 na Universidade Federal da Fronteira do Sul (UFFS) - Campus Chapecó em licenciatura em História entitulado "A formação e reprodução da elite local em Palmas: um estudo de caso a partir do Capitão Francisco Antônio de Araújo (1839-1876)" trouxe muitas informações para minha pesquisa genealógica.

            Segundo Leonardi (2018) o entrelaçamento das Famílias Araújo e Siqueira Côrtes foi muito recorrente na ocupação dos campos de Guarapuava e ainda nos campos de Palmas, no século XIX e já ocorria no século XVIII.

            Cita um recorte de jornal onde Jesuíno Siqueira Côrtes, pai de Miceno Ferreira de Siqueira, comunica o passamento de sua esposa D. Francisca Ferreira de Jesus ocorrido em 1885 com apenas 32 anos de idade no Jornal Dezenove de Dezembro em 16/03/1885.


            Em pesquisa na Hemeroteca Digital é possível visualizar a edição original de 1885. Uma publicação encaminhada ao jornal da Capital "Dezenove de Dezembro" a partir de Palmas-PR, pois a família também teve importante história naquela cidade.




    
        

            Pode-se interpretar que Francisca tenha falecido após o nascimento de Miceno quando este ainda era criança. Não se tem notícia de novo casamento de Jesuíno, aparentemente Miceno tenha sido seu único filho. Francisca vem da Família Araújo conforme publicação de Leonardi (2018).
            
            Jesuíno Siqueira Côrtes era filho de Pedro de Siqueira Côrtes que ficou conhecido como o "Conquistador dos Campos de Palmas". A epopeia é narrada por diversos autores como Nivaldo Kruger, Rosellys Vellozo Rordejan, Sebastião Meira Martins, entre outros...

Batismo de Jesuíno Siqueira Cortes em Guarapuava - PR



            Parte das terras de propriedade de Pedro Siqueira Côrtes são apresentadas na capa do livro "Pioneiros do Vale do Entre Rios".

            
           
descendentes de Pedro Siqueira Cortes, filho de Bento Siqueira Cortes




ANTEPASSADOS



            Bento de Siqueira Cortes casou com Ana Maria de Jesus, descendente de Baltazar Carrasco dos Reis e dos Preto e Prado paulistas. A filha, Rosa Maria de Jesus, casou com Teodoro Antunes Ferreira Maciel, filho de Marcelo Antunes Maciel e Benedita Ferreira Prestes, moradores da Lapa e que foram os geradores dos Maciel de Palmas. Outra filha, Maria Perpétua de Siqueira, casou com Lourenço Justiniano de Araújo, que foram os pais de Francisco Antônio de Araújo, tronco da maioria dos Araújo de Palmeira.
                    Estátua de Baltazar Carrasco dos Reis em Curitiba próximo ao Teatro Paiol.

            Baltazar Carrasco dos Reis, foi Capitão Povoador de Curitiba, um de seus fundadores, antepassado por diversos galhos da minha árvore genealógica (Roseira, Agner, Lacerda) é apresentado em tópico próprio.

            Bento de Siqueira Cortes é filho de outro Pedro de Siqueira Cortes e de Ana Gonçalves Coutinha.

Batismo de Bento Siqueira Cortes


Terras de Bento Siqueira Cortes. Letra "G" seriam as terras de Pedro Siqueira Cortes seu filho onde fica o marco régio (Murilo Teixeira - Marco Regio).


            Bento de Siqueira Cortes é filho de outro Pedro de Siqueira Cortes casado em segundas núpcias com Anna Coutinha, neto de Antônio Siqueira Cortes, bisneto de Maria de Siqueira Cortes e Luís de Gois, este irmão de Antônia de Gois, casada com Mateus Martins Leme, povoadores de Curitiba no século XVII. Luís de Góis era casado com Maria de Siqueira Cortes, dos Preto paulistas 

        Por sua mãe Ana Gonçalves Coutinho, Bento de Siqueira Cortes é bisneto do capitão-mor João Rodrigues de França. Ana Gonçalves Coutinha (nascida Ana de França) é filha de Paula Rodrigues França, esta filha de Maria da Conceição e de João Rodrigues de França, último Capitão-Mor de Paranaguá e dono de sesmarias de terras em Curitiba, Campo Largo (Ferraria, Botiatuva e Timbotuva), donos das minas de ouro do Açungui, primeiro habitante de Campo Largo (primeiras Sesmarias de terras) no Tamanduá. Sua dew

Certidão de 1733 - Casamento de Pedro de Sequeira Cortes e Anna Rodrigues Coutinha


            Na lista da Ordenança de 1766 residem em Campo Largo, distrito da vila de Curitiba, Pedro de Siqueira Cortes, com 57 anos e seus filhos, entre os quais Bento de Siqueira Cortes, com 20 anos de idade. A maioria dos moradores de Campo Largo em 1766 são netos e bisnetos de Paula Rodrigues de França e possivelmente residem nas terras que ela herdou de seu pai, o capitão-mor de Paranaguá, João Rodrigues de França. 

            Moravam Bento e Pedro no "Javacahen" que significa cabeça da onça em língua indígena (atual distrito de Bateias - Campo Largo - PR) em terra recebida de seu sogro João Rodrigues França, último Capitão-Mor de Paranaguá. 
                        

            João Rodrigues França, sogro de Pedro Siqueira Côrtes era filho de Jacques Frestier, um francês de Marseille que veio a residir em Itanhaém  onde consta que foi vereador. Há rumores de que tenha sido pirata. Como era de origem francesa, seus descendentes ficaram conhecidos ou adotaram o sobrenome "de França".



            


            Antonio era pai de Pedro

De acordo com Roselys Vellozo Roderjan Bento de Siqueira Cortes era pai de Pedro de Siqueira Cortes, que comandou uma das expedições na Conquista dos Campos de Palmas e Domingos e Antônio de Siqueira Cortes, que também participaram dessa expedição. 

FALECIMENTO
            
Faleceu em Guarapuava em 1882. Quando nasceu a Vila da Conceição do Tamanduá ainda pertencia para Curitiba. Foi pertencer a Palmeira depois de 1819, com a criação de tal município.


Certidão de óbito em Guarapuava










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